Da caixa-preta à inovação aberta: a evolução dos processos de P&D e a interseção entre corporates e startups

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Por Marcella Costa e Laura Bottega Eskudlark* (artigo publicado originariamente na Época Negócios)

Por muitos anos, a “cultura da caixa-preta” prevaleceu nas iniciativas de inovação no meio corporativo. Nela, as empresas mantêm seu conhecimento (como know-how e PI) dentro dos limites da própria organização, por presumir que ele é fonte de controle, poder e exclusividade, além de as diferenciar das outras corporações.

De fato, na época da inovação técnica, antes dos anos 2000, a estratégia da caixa-preta funcionou bem e trouxe retornos significativos para o capital investido. Entretanto, desde então, o processo de inovação experimentou mudanças que romperam com esse paradigma de sigilo. As empresas se tornaram mais globalizadas, as necessidades dos clientes, mais complexas, e o próprio ecossistema de negócios, mais conectado, em função do surgimento e expansão de novas tecnologias e dos processos de digitalização pelos quais passa a economia de forma geral.

Esse novo modus operandi de fluxos interligados e digitalizados fez com que as organizações precisassem deixar de lado sua tradicional operação em um sistema linear e fechado para dar espaço à atuação em um ecossistema aberto e dinâmico, de modo a expandir a cadeia de valor empresarial.

Hoje, apenas o aparente domínio sobre um produto ou serviço não garante o sucesso ou a manutenção da competitividade da companhia no mercado. Antes, esses fatores precisam estar ancorados em um bom modelo de negócios, posicionamento estratégico e, principalmente, processos inteligentes e ágeis de inovação e gestão de conhecimento. Atualmente, os avanços tecnológicos têm a capacidade de extinguir do mapa gigantes do mercado em poucos meses, como no clássico exemplo Blockbuster versus Netflix.https://111eaac433d10c9c98bcb9da0eaa4616.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html?n=0

É nesse contexto que surgiu o modelo da “inovação aberta”, que explica os processos e as consequências de se abrir a caixa-preta empresarial. Em resumo, o conceito ressalta como o conhecimento compartilhado pode promover a inovação na empresa e gerar valor tanto para ela como para os agentes externos participantes do mesmo ecossistema.

Ao elaborar esse conceito, Henry Chesbrough, considerado o pai da inovação aberta, entendeu que frutos mais proveitosos podem ser colhidos por todos ao se aproximarem múltiplos stakeholders do ecossistema da inovação – como universidades, companhias consolidadas, empresas nascentes e o governo – em prol do objetivo comum de inovar. Assim, adotou como propósito promover a aproximação entre esses agentes e passou a abordar a inovação de forma mais participativa e descentralizada, de modo a unir forças cooperativas para a criação de relacionamentos e o alcance de interesses e metas comuns.

Uma das principais características da inovação aberta é utilizar conhecimento para inovar em algo – seja em produto, serviço ou modelo de negócios –, partindo do princípio de que as fontes de conhecimento para inovação são amplamente distribuídas na economia. Desse modo, a organização desconsidera as origens dos recursos e entende que pode aproveitar o que há de melhor no ecossistema, independentemente de onde venha. Essa premissa é diferente daquela da inovação fechada, que usufrui apenas dos recursos e conhecimentos que estão dentro dos limites da companhia. A inovação aberta, como o próprio nome sugere, transcende os limites da empresa.

Assim, na inovação aberta, as organizações adotam uma postura de troca, tanto com hubs de conhecimento e universidades, como com outras corporações e startups.

Parcerias entre startups e grandes empresas têm adquirido um espaço cada vez maior nesse ecossistema, e o Brasil consolidou-se como referência internacional no tema. Em 2022, por exemplo, 4.500 corporações firmaram parcerias com startups no país, segundo relatório da 100 Open Startups. Nessa linha, uma das vertentes da inovação aberta que mais cresce é a de programas de inovação corporativos, que unem startups a grandes organizações, com benefícios para ambos os lados.

Para a startup, participar de programas de inovação corporativa é interessante em termos de acesso a recursos, já que ela passa a desfrutar da infraestrutura e do conhecimento especializado da grande empresa, aos quais não teria acesso se trabalhasse por conta própria.

Além disso, é uma boa oportunidade de networking e acesso ao mercado, pois a startup pode aproveitar as redes de distribuição, canais de vendas e clientes da corporação para entrar no mercado mais rapidamente, além de aumentar o leque de contato com possíveis clientes, investidores ou parceiros.

A parceria pode ainda reduzir os tradicionais riscos associados a esse mercado, dado que a startup divide os riscos e as incertezas relacionados ao desenvolvimento de novos produtos ou serviços com outras partes interessadas.

Já para a companhia, desenvolver programas de inovação corporativa é interessante como meio de acessar tecnologias emergentes e soluções inovadoras e arrojadas que dificilmente ela conseguiria desenvolver sem a aproximação com as startups ou que demandariam dela muito tempo e esforço. Se a solução não estiver pronta, a empresa ainda tem a possibilidade de lançar “desafios” para que as startups busquem soluções para problemas específicos.

Além disso, a parceria costuma incrementar a flexibilidade da corporate, que, de alguma forma, passa a adotar as metodologias trazidas pela startup. No geral, startups usam modelos de negócio mais ágeis e flexíveis, o que pode auxiliar a empresa a se adaptar rapidamente às mudanças do mercado. Para além do modelo de negócios, startups tendem a assumir mentalidade inovadora e criativa, o que pode trazer novas perspectivas e ideias para a empresa em diversos setores.

Como forma de arrematar tudo isso, é importante ressaltar o benefício da redução de custos, já que obter tais tecnologias via parceria direta com a startup normalmente representa um custo menor do que se a empresa fosse desenvolvê-las internamente.

Apesar de esse não ser o objetivo principal da inovação aberta, a adoção dessa dinâmica pelas corporates pode ainda servir como oportunidades de investimento, já que, com frequência, os programas preveem a possibilidade de a empresa adquirir participação societária na startup e participar de seu futuro sucesso.

Abrir a caixa preta e o processo de inovação é uma estratégia corporativa de ganha-ganha ideal para a complexidade global que vivemos hoje no ecossistema de negócios. A aproximação de corporações e startups representa a união e o equilíbrio entre tradição e modernidade, gerando uma dinâmica negocial inclusiva, que integra conhecimentos diversos e cultura de inovação dentro do universo empresarial, além de gerar cocriações que beneficiam múltiplos stakeholders.

*Marcella Costa é gestora da área de Startups do Opice Blum Advogados. É pós-graduada em Direito Digital, pela EPD, cursou LLM, em Direito Societário, pelo Insper e programação de Smart Contracts em Blockchain, na PUC/SP. É membro do Conselho de Economia Digital e Inovação, da Fecomercio e Diretora Jurídica da Associação Brasileira de Logtech. Coautora de capítulo nos livros “Data Protection Officer” e “Legal Innovation”.

*Laura Bottega Eskudlark é advogada no escritório Opice Blum. É formada pela Escola de Direito da Fundação Getúlio Vargas (FGV Direito SP), com intercâmbio acadêmico na Sorbonne Université e extensão em Direito para Startups pelo Insper.

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