POR Danielle Serafino e Gisele Karassawa* (Artigo publicado originariamente na revista Consultor Jurídico – Conjur)
O Web Summit 2021, que aconteceu em Lisboa na primeira semana de novembro, trouxe novas tendências em diversos mercados, consolidando também tantas outras que já vinham despontando em edições anteriores, como o movimento de globalização da economia.
A expressão “Go Global” foi repetidamente mencionada em diversos painéis do evento, desde a estratégia de globalização de time de futebol até o contexto de colaboradores nômades digitais, acentuado pela pandemia da Covid-19.
No entanto, nenhum outro assunto parecia despertar tanto interesse do público como a globalização de startups. Ao levar em consideração o perfil típico das startups, com seus serviços de base tecnológica e produtos repetíveis e escaláveis, aparentemente se trata de match perfeito com essa tendência de internacionalização.
Nesse cenário, identificamos oportunidade muito particular nas relações Brasil – Portugal, realçada pela conexão histórica entre esses dois países, o que pode favorecer o intercâmbio de negócios.
De um lado, temos o Brasil, um grande país em extensão e em população, com mercado potencial de mais de 200 milhões de pessoas, ecossistema bastante evoluído e constituído por mais de 14 mil startups em mais de 715 cidades [1], isso sem contar relevantes hubs de inovação, como CUBO, Distrito e InovaBra.
Do outro lado está Portugal, um dos mais hypes países europeus dos últimos tempos, que, embora pequeno, levantou-se rapidamente da crise causada pela pandemia e tem liderado a retomada da zona do euro com a maior taxa de crescimento (4,9%) entre os Estados que fazem parte da União Europeia (muito acima de potências como a Alemanha, que registrou 1,5% no 2º trimestre de 2021)[2].
No Brasil, as startups já nascem com o desafio de atender a uma multiplicidade de culturas, costumes, perfis de consumo e necessidades específicas, geralmente com uma vocação natural para escalar seus serviços.
Portugal, por sua vez, tem contado com relevantes estratégias do Poder Público para estruturar e fortalecer políticas de fomento ao empreendedorismo inovador, com o objetivo de tornar o país a principal referência no assunto. Um exemplo é o StartUp Portugal, programa lançado em 2016 pelo Ministério da Economia. Nesse contexto, vale destacar a iniciativa do Startup Visa, que auxilia empreendedores estrangeiros a obter visto e autorização de residência, bem como fornece o suporte de uma incubadora em Portugal.
Além disso, o país tem o Web Summit, que ocorre em terras lusitanas desde 2016 (até 2026), tendo sido palco para o anúncio de que Lisboa sediará a ESNA – European Startup Nations Alliance, nova entidade da União Europeia formada por 26 países membros mais a Islândia, cujo foco é fomentar e assegurar o crescimento das startups nos seus diferentes estágios de desenvolvimento.
Por fim, em Portugal, além do acesso à mão de obra extremamente qualificada e um portfólio diferenciado de fundos de investimentos europeus, os brasileiros têm ainda como “bônus” a facilidade da comunicação. Dessa forma, para startups brasileiras que tenham em seu planejamento estratégico o alcance do mercado global, Portugal tem se destacado como importante porta de entrada na Europa. É a fome com a vontade de comer.
[1] Dados da Associação Brasileira de Startups – ABSTARTUPS disponíveis em https://startupbase.com.br/home. Acesso em 02/12/2021
[2] https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58896600
*Danielle Serafino é sócia do Opice Blum, Bruno e Vainzof Advogados Associados, com atuação nas áreas Tributária, Legal Innovation e Legal Design.
*Gisele Karassawa é gestora da Startup.OBA do Opice Blum, Bruno e Vainzof Advogados Associados.