Mulheres no mercado de tecnologia e empreendedorismo

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Por Marcella Costa e Laura Bottega Eskudlark (artigo publicado originariamente no Migalhas)

Historicamente a computação nasceu de forma associada à função de secretariado, ligado a tarefas femininas – a primeira turma de Ciências da Computação do Instituto de Matemática e Estatística (IME), em São Paulo, era composta de 70% de mulheres. Porém, a partir dos anos 1980, com o surgimento do computador pessoal, houve uma inversão nesse cenário. Na turma de 2016 do referido curso do IME, as mulheres representavam apenas 15%.

Desde então, a participação feminina no mercado de tecnologia tem sido importante tema de discussão. Embora tenha havido certo avanço na igualdade de gênero, são gigantes o gap de representatividade e os desafios para atrair e reter mulheres em posições técnicas e, especialmente, de liderança. 

De acordo com dados recentes[1], entre 20 e 40% das posições de tecnologia são ocupadas por mulheres. Se olharmos de forma mais direcionada para as posições de liderança, além de esses números despencarem, ainda se identificam outras formas de desigualdade, como a discrepância salarial. Segundo a Pesquisa de Remuneração Total, realizada pela consultoria Mercer, a disparidade salarial entre homens e mulheres, em nível executivo, pode chegar a 36% no mercado de tecnologia.[2]

No mercado de venture capital, braço importante da indústria de tecnologia que lida com investimentos de risco em empresas com alto potencial de crescimento, a realidade da presença feminina não é diferente daquela do setor tecnológico no geral. Dentre os cem principais fundos de venture capital do mundo, apenas oito possuem sócias mulheres.[3] Além disso, menos de 3% das empresas lideradas por mulheres recebem esse tipo de financiamento, conforme dados da Harvard Business Review.[4] Vale ressaltar ainda que, no ecossistema de inovação, apenas 9,8% das empresas são fundadas por mulheres – em contrapartida, são 46,2% no empreendedorismo tradicional.[5]

Esse cenário de desigualdade e baixa representatividade pode gerar problemas de diversidade de pensamento e perspectiva, com a criação de soluções tecnológicas menos inclusivas e equitativas para todos. Mais do que isso, a diversidade na composição da estrutura de governança corporativa das empresas pode impactar positivamente os níveis de indicadores ambiental, social e de governança (ESG), o desempenho financeiro, além da capacidade da empresa de se manter competitiva e com times engajados.

Apesar da dificuldade de demonstração empírica, é unânime o entendimento de que a participação de mulheres em Conselhos e Comitês Executivos das empresas garante o enriquecimento de visões e opiniões, que, consequentemente, geram tomadas de decisões mais conscientes e acertadas. Essa é a recomendação, inclusive, do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), em seu Código de Melhores Práticas de Governança Corporativa, por exemplo.

Nesse sentido, estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) revelou que empresas que apresentam maior inclusão feminina observaram crescimento de 5% a 20% em seus lucros.[6] Já empresas que possuem pelo menos uma mulher em seu time de executivos têm 50% mais chance de aumentar a rentabilidade e 22%, de fazer crescer a média da margem EBTIDA, de acordo com estudo da consultoria McKinsey em empresas na América Latina, que comparou gênero e dados financeiros.[7] Outro estudo debatido no Fórum Mulheres na Liderança[8] demonstrou que aumentar em 30% o número de líderes femininas pode fazer os lucros do negócio crescerem em 6%.

Apesar de não ser animador o atual cenário da presença feminina e diversidade de gênero em grandes empresas, diversas iniciativas têm sido adotadas na busca de revertê-lo e maximizar a presença das mulheres nesse mercado. Gradualmente, os esforços têm dado frutos. A participação das mulheres em vagas de tecnologia cresceu 60% entre 2015 e 2020, passando de 27,9 mil mulheres para 44,5 mil, de acordo com dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Os programas Women Entrepreneurship e WE Ventures, da Microsoft, também são bons exemplos. O objetivo desses projetos é fomentar a educação e o empreendedorismo feminino no Brasil, e desde sua implementação houve um aumento expressivo no valor dos investimentos realizados em startups brasileiras lideradas por mulheres, que passaram de 15%, em 2019, para 30%, em 2022.

Se nos primórdios da tecnologia esse campo foi dominado por grandes nomes femininos, como Ada Lovelace, criadora do primeiro algoritmo, e Hedy Lamarr, “mãe da Wi-Fi”, pode ser que nos próximos anos a indústria tecnológica experimente um retorno às origens, com o aumento da participação feminina no setor.

*Marcella Costa é gestora da área de Startups do Opice Blum, Bruno e Vainzof Advogados. É pós-graduada em Direito Digital pela EPD, cursou LLM em Direito Societário pelo Insper e programação de Smart Contracts em Blockchain pela PUC-SP.

*Laura Bottega Eskudlark é advogada do Opice Blum, Bruno e Vainzof Advogados. É formada pela FGV Direito SP, com intercâmbio acadêmico na Sorbonne Université e extensão em Direito para Startups pelo Insper.


[1] Pesquisas globais da KPMG realizadas em setembro de 2020.

[2] https://forbes.com.br/forbes-mulher/2022/01/mulheres-na-tecnologia-um-espaco-a-ser-conquistado/

[3] https://oasislab.com.br/como-pensam-as-mulheres-que-investem-em-startups-no-brasil/

[4] https://forbes.com.br/forbes-mulher/2023/01/por-que-as-mulheres-sao-o-futuro-do-venture-capital/

[5] Female Founders Report 2021, do Distrito.

[6] https://exame.com/esg/diversidade-impacto-positivo-negocios/

[7] https://valorinveste.globo.com/objetivo/empreenda-se/noticia/2019/04/30/mulheres-em-cargos-de-lideranca-aumentam-o-lucro-das-empresas.ghtml

[8] https://exame.com/carreira/por-que-diversidade-de-genero-nas-empresas-significa-mais-lucro/

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